quarta-feira, 11 de junho de 2008





"Os Homens do Presidente"

A Comunicação de Crise não interessa aos políticos!











Índice:



Introduçao







As verdadeiras Estratégias de Comunicação

1.1 Os pseudo-eventos: criação de factos políticos

1.2 As fugas de informação

Marketing político e marketing eleitoral

1.1 Estudos de opinião: as Sondagens e o Focus Group

1.2 Assessoria de Imprensa

1.3 O Soundbite

As Campanhas Negativas

1.1 As Crises, a Mentira e a Manipulação

Conclusões








Introdução

No âmbito de um trabalho académico, o assunto que abordarei essencialmente e que tentarei provar com base em provas e situações consistentes, será que a Comunicação de Crise não interessa aos políticos.

Ora partindo do princípio que em situações de crise, nomeadamente, na politica, a tradição manda seguir o caminho da verdade, da transparência e, sobretudo, da admissão da culpa, o facto é que, cada vez mais, o mundo da politica é extremamente complexo e, caracteristicamente, subtil e cheio de truques.

Se num primeiro semestre foi-nos dada a conhecer a primeira e mais urgente forma de reagir á crise, agora, as chamadas manobras de bastidores ocuparão grande parte deste trabalho.
Ao longo deste trabalho serão desenvolvidos vários temas abordados nas aulas de Estratégias da Comunicação, temas esses, que serão relacionados com alguns episódios da série “Os Homens do Presidente” que embora ficcional nos dão uma ideia realista do que é, verdadeiramente, o mundo da comunicação, das estratégias, das manobras de bastidores e, fundamentalmente, do mundo da politica.

O que se pretende, essencialmente, é mostrar e comprovar uma realidade sempre constante entre nós, mas que nem todos conseguimos perceber.

A disciplina Estratégias de Comunicação teve como principal objectivo, este semestre, identificar casos e mostrar-nos que nem tudo o que acontece ou vemos é resultado de situações inocentes e espontâneas. . Antes pelo contrário. Actualmente, e com o crescente mundo da competição, os políticos vêem-se quase que obrigados a optar por um caminho que nem sempre é o mais correcto e sincero. Logo, a adopção de técnicas, cada vez mais, sofisticadas faz com que a chamada Comunicação de Crise, definitivamente, seja inconveniente para o sucesso dos políticos.
Provas de tudo isto são alguns dos episódios da série “ Irmãos e Irmãs”, o filme “Boris” e “Manobras na Casa Branca”.

Os três, juntamente com os “Homens do Presidente” ajudar-nos-ão a compreender a relação que existe entre o mundo da ficção e a nossa realidade.



As verdadeiras Estratégias de Comunicação

O mundo em que vivemos caracteriza-se por uma onda de informação actual, rápida e, sobretudo, invasiva nunca antes vista.

Num cenário de elevada concorrência, torna-se, então, necessário sofisticar aquilo que queremos transmitir, aumentando a criatividade e reforçando a subtileza. Para conseguir atrair a atenção dos jornalistas e por conseguinte a da opinião pública precisamos de recorrer á utilização de determinadas técnicas. Técnicas, essas, que necessitam de ser mais eficazes porque há pouco espaço disponível e as mensagens para serem escolhidas pelos jornalistas precisam não só de valor mediático, mas também de algo mais complexo.

O simples Press Release ou as conferências de imprensa matinais da CJ são verdadeiros produtos de uma estratégia, ou seja, tudo o que se diz ou se vai dizer é, previamente, pensado nos bastidores para que no futuro as repercussões se revelem de diversas formas na opinião publica, isto é, da forma como eles, inicialmente, previram.

Uma Estratégia da Comunicação significa que a mensagem que chega aos jornalistas não é, de todo, um acto inocente e voluntarioso dos assessores de imprensa. É, sim, resultado do profissionalismo e sofisticação das relações públicas que pretendem que o jornalista não resista á sua publicação.

Para que uma boa Estratégia da Comunicação funcione é necessário que o assessor domine o campo jornalístico, isto é, saiba precisamente o que o jornalista quer, como quer e como pode “safar-se” às rasteiras dos jornalistas.


Observação: No episódio “Navegação celestial” dos “Homens do Presidente”, esta situação é bem retratada. Quando CJ (habituada aos briefings da Casa Branca) não pode realizar a conferência de imprensa matinal, Josh oferece-se e acaba por ser um desastre. Josh não tem a capacidade, competência e preparação de CJ para enfrentar as questões dos jornalistas. Qualquer falha ou palavra mal interpretada pode ornar-se numa verdadeira crise, “blown to hell”, segundo Josh.
Como já foi referido anteriormente o espaço mediático é finito e para que a nossa mensagem seja noticiada, é preciso recorrer a determinadas técnicas, entre elas, a criação de pseudo-eventos que obrigam os jornalistas a olhar com atenção para um determinado acontecimento. Contudo, também há o lado inverso, ou seja, há casos em que o objectivo é desviar a atenção da opinião pública quando as coisas correm mal. Logo, e em jeito de resumo, as Manobras de Bastidores têm dois objectivos: atrair os jornalistas quando as coisas correm bem e quando querem que o facto seja noticiado ou então desviar as atenções quando é conveniente (Bush mandou invadir a ilha “Granada” no dia em que saiu um relatório negativo sobre ele).

1.1 Os Pseudo – eventos: criação de factos políticos

Como vimos ate aqui, toda a informação que chega aos jornalistas é fabricada, construída e manipulada. Porem, é de salientar que nem sempre manipular é sinónimo de enganar, embora na maioria dos casos isso aconteça.

Se para conseguir um determinado espaço destinado ao assunto que me interessa ou para fazer que aquele espaço que está destinado ao assunto que não me interessa seja ocupado de outra forma são necessárias manobras de bastidores que passam por um complexo jogo de artimanhas.
Os pseudo-eventos e a criação de factos políticos surgem quando queremos prender a atenção dos jornalistas naquilo que nos interessa ou então naquilo que não queremos que eles se interessem. No episódio d’Os Homens do Presidente, “Um dia pouco movimentado”, tal como o nome indica, não havia nada para noticiar naquele dia. CJ realçava o facto de que precisariam de uma boa declaração para a imprensa se entreter com umas coisas, porque assim já não se ocupariam de outras, ou seja de investigar. O que, em principio, seria bom porque ao não ter noticias é porque nada de novo ou nada de importante se tinha passado, transforma-se num grande problema, pois para os jornalistas não é uma situação comum e a própria profissão exige sempre algo a noticiar. Logo, se não encontram, investigam.

Sem a ajuda dos jornalistas, os políticos não poderiam criar os acontecimentos que lhes trazem ou tiram poder e notoriedade. Os pseudo-acontecimentos não são espontâneos, surgem porque foram planeados, são criados para serem cobertos pelos media e o sucesso mede-se pela amplitude da sua cobertura. No filme “Manobras na Casa Branca”, a criação do pseudo-evento é bem esclarecida. A onze dias das eleições surge um problema grave. O presidente é vítima de acusações de assédio sexual. A solução passa por abafar o problema durante esses onze dias e, para isso, os jornalistas devem ser distraídos. O plano de acção resume tudo o que foi dito. Foi criado um pseudo-evento (Guerra) que manteve o público ocupado, sem tempo para pensar. Os media foram levados a acreditar num facto falso, longe do verdadeiro problema. É lógico que na realidade era muito difícil acontecer algo parecido, mas não deixa de ser interessante avaliar a magnitude da situação.

Os pseudo-eventos são, muitas vezes, uma espécie de falsa realidade construída por quem tem algum interesse nisso com o objectivo de tornar obrigatória a publicação por parte dos jornalistas.

Em Portugal, por exemplo, o funeral da fadista Amália foi pensado para ser transmitido e as conferências de imprensa são, agora, em directo, às oito da noite, nos telejornais. Horário que prende a atenção porque todos estão a ver.


1.2 As fugas de Informação

O que outrora era indesejável, passou, agora, a ser um dos instrumentos privilegiados na comunicação política. Ou seja, as fugas de informação, na sua definição mais radical são aquilo que ninguém que pretende manter segredo, deseja. Porem, a fuga de informação é o pseudo-evento por excelência.

Um pseudo-evento produz novos pseudo-eventos e numa boa Estratégia da Comunicação, a fuga garante a valorização da notícia e abre o apetite para o seu desenvolvimento nos dias seguintes.
A fuga de informação começou como uma prática ocasional de uma fonte oficial transmitir informação confidencial a alguns jornalistas, mas hoje, tornou-se numa forma institucional de transmitir informação. Este clima de confidência cria confiança entre fontes e jornalistas. “Um dia pouco movimentado” mostra o clima de intriga entre assessores e jornalistas que acabam por ter poder ao serem bem informados. São os privilegiados. Mas ate que ponto, esse privilégio não faz parte de uma manipulação bem pensada apara fazer os jornalistas noticiarem aquilo que queremos, da forma como queremos? As regras respeitantes ao “off the record” são, especialmente, importantes no caso das “fugas” de informação.

No episódio “Vida em Marte” d’Os Homens do Presidente” fica a saber-se que o vice-presidente teve um caso com a secretária e fala de muita coisa sobre a Casa Branca. A imprensa sabe e sai nos jornais. Simultaneamente, a Casa Branca é acusada de esconder um relatório que continha provas de que em Marte havia a probabilidade de existirem moléculas de água. O advogado da Casa Branca fica encarregue de verificar se infringiram ou não a lei. Em ambos os casos, estamos perante fugas de informação não desejadas. O que fazer numa situação destas? A situação é de crise e o papel da assessoria é fundamental. A assessoria é parte integrante de toda uma estratégia que visa solucionar as crises. Não é um elemento passivo. Participa em tudo o que se decide, mesmo antes do contacto com os jornalistas.

O episódio “the Al Smith Dinner” também é muito importante no aspecto das fugas de informação e nos ataques pessoais das campanhas negativas que veremos mais á frente. Neste episódio, o tema em discussão é o aborto e Toby Ziegler deixa escapar uma informação importante. A Casa Branca é confrontada com um anúncio que ataca o Presidente sobre o aborto. No briefing da Casa Branca, CJ não responde às perguntas insistentes dos jornalistas que teimam em tentar descobrir quem desencadeou a fuga de informação.


O Marketing politico e o Marketing eleitoral

A área de actividade onde há mais complexidade e mais perigo de manipulação é, sem dúvida, na política. Daí podermos dizer que vale tudo. É certo que não se ganham eleições sem marketing político, ate porque numa verdadeira democracia não se ganham eleições sem campanhas eleitorais. Nas duas ou três semanas que antecedem o resultado, vale tudo. Logo, não admira que o próprio marketing tenha chegado á política como um conjunto de técnicas que podem arrecadar mais votos.

O marketing político pode criar uma personagem diferente, pois valoriza as qualidades do político e desvia os defeitos. No filme “Boris”, o candidato russo no discurso de lançamento não sorriu uma única vez e foi um desastre. Isto demonstra que todos os pormenores são decisivos para adquirir o apoio dos eleitores. A boa imagem passa por transmitir aos eleitores que o candidato é simpático. Prova disso, foi que no mesmo filme, inventaram um cenário do presidente a plantar árvores para dar uma ideia mais positiva. Conseguiram subir três pontos nas estatísticas.

O marketing político serve-se de estudos de opinião, da assessoria de imprensa e do famoso soundbite.

1.1 Estudos de opinião: as Sondagens e o Focus Group

Por serem ainda recentes e pressuporem alguma mudança de mentalidades, há ainda políticos que desvalorizam o valor das sondagens.

As sondagens são a única forma de consultar antes das eleições a opinião da massa que vai votar. Uma boa sondagem depende da construção do questionário (o filme Boris ilustra bem a dificuldade de elaborar as perguntas para os resultados serem os mais fiéis e imparciais possível), da constituição da amostra (um grupo bem constituído e pouco usado em caso de votações politicas), e do rigor da interpretação dos resultados. O Focus Group é um instrumento recente, caro e provavelmente o mais acertado. Em Portugal, Sócrates foi o primeiro político a ganhar com base no Focus.

No filme “Boris” há o chamado “jogo de eleição” que são as sondagens (Focus Group) para simular a eleição, que acaba par ser desastroso, pois o grupo acha que o candidato é corrupto.
No filme “Manobras na Casa Branca”, o discurso do presidente é lido para trinta secretárias. O objectivo principal, em ambos os casos, é ter uma ideia prévia para poder arrancar com soluções, se for caso disso.

Na série “Os Homens do Presidente”, a importância das sondagens é fulcral. Perante a crise da tardia admissão e revelação da doença de Bartlet (esclerose múltipla, a sondagem aparece como instrumento de gestão e preparação. É necessário contar ao país que Bartlet esta doente e as sondagens previas servem para os assessores se prepararem e arranjarem soluções. O resultado da estatísticas não favorece o presidente e é necessário contornar a crise. Todos os detalhes são previamente pensados. Como se contará, onde e quando não é deixado ao acaso. Tudo é pormenorizadamente pensado, incluindo as consequências que possam surgir.

As sondagens podem aparecer na fase de detecção das necessidades, ou seja, saber o que é que os eleitores pensam (caso Homens do Presidente, em que eles se servem das sondagens para perguntar ás pessoas o que acham da doença do presidente e se mesmo assim ele tem hipóteses e competência de governar o país) e na fase final, ou seja, impacto do que se fez). No episódio “mentiras e estatísticas”, a Casa Branca necessita de um homem importante que fará toda a diferença nas sondagens. Logo, a solução passa por tentar ludibriá-lo com a presença do presidente e fazendo-o assumir novos cargos. A sondagem, ao longo do episódio é tão importante, que CJ ao inicio arrisca um prognostico com fé de que o presidente alcançara bons resultados, o desenvolvimento do episodio dá-nos conta de uma série de tentativas para solucionar os problemas que vão surgindo e ao fim, quando estão todos reunidos, preocupados e nervosos, CJ aparece e diz que se enganou nos prognósticos. O resultado tinha superado as suas expectativas.



1.2 Assessoria de Imprensa

A assessoria de imprensa é muito importante porque pressupõe a intermediação feita através dos jornalistas. O político é eleito pelo universo, mas nunca consegue falar para o universo todo. É aí que entra o papel dos assessores porque o político chega a todos através da comunicação social, ou seja os primeiros destinatários dos políticos são os jornalistas.

Na Casa Branca, o papel dos assessores é isso mesmo: tratar da imagem do presidente Bartlet perante os jornalistas e responder por ele. É através dos jornalistas que a super equipa ultrapassa as crises e manipula as situações mais desagradáveis e inconvenientes. Situações que têm duas formas de reagir: Comunicação de crise ou a manipulação. Na série “O Homens do Presidente”, podemos ver num episódio, os quão importantes são os conselhos da assessora. Quando existe um problema com as centrais nucleares (porque não foram devidamente testadas), Vinnick não tem mais alternativas senão optar pela Comunicação de Crise. Talvez se houvesse uma oportunidade de arranjar uma forma de manipular e enganar, teria enveredado por esse caminho. Contudo, os números das sondagens continuavam a descer e ele quis convocar uma conferência. A assessora aconselhou-o a não fazer isso, mas ele mesmo assim fez. O regulado é que passadas duas horas ele ainda esta a responder.



1.3 O Soundbite

A Estratégia de Comunicação dos políticos passa muito pela criação de Soundbites. São muito importantes porque significam o culminar da estratégia do marketing político.

O soundbite é uma forma de manipulação da opinião pública muito eficaz e simples. Exige a selecção de ideias-chave e a concretização de ideias que vão directas ao coração dos jornalistas e, por conseguinte, ao da opinião pública.

O soundbite é mais do que um slogan, é a artificialização do discurso, da ideia á sua mínima expressão para prender a atenção dos jornalistas.

Os políticos são tantos e o tempo tão curto que os protagonistas devem dar as suas ideias num espaço de segundos. Devem ser apelativos e repetidos. Os políticos esperam que os jornalistas amplifiquem as suas mensagens. No filme “Boris”, o candidato russo faz um discurso de três horas. Além de massivo, o discurso torna-se demasiado longo e não capta, de forma alguma, a tenção dos jornalistas durante tanto tempo. O efeito que deveria ter o discurso não é, desta forma, concretizado. Contudo, os consultores políticos convencem-no a fazer anúncios de TV com bites de cinco segundos, apenas.

No episódio “Universitários” foi detonada uma bomba numa universidade. O presidente faz um discurso e surpreende todos com as suas palavras que vão directas ao que as pessoas querem exactamente ouvir. Perante a crise. O presidente é aplaudido ao falar em criar melhores condições para as escolas e para as crianças.

Observação:
Com o decorrer de todas estas técnicas, chegamos cada vez mais á conclusão do princípio. Perante uma crise em que é necessário ultrapassar ou perante as eleições que são necessárias vencer, a comunicação de crise torna-se inconveniente e desnecessária aos políticos.


As Campanhas Negativas

O próprio conceito de campanhas negativas já nos remete para um campo de campanhas incorrectas versus campanha positiva. Ora, dizer campanha positiva, aqui, é apenas para clarificar a diferença entre uma e outra, pois na verdade a campanha positiva é a campanha normal.

Num mundo de permanente concorrência, os políticos optam pelas campanhas eleitorais negativas, ou seja, aquelas em que o candidato releva os defeitos do adversário, em vez de se limitar a pensar pelas suas próprias qualidades.

Numa campanha eleitoral, os candidatos deveriam realçar as suas qualidades, mostrando ao país as suas capacidades de governação. Contudo, não é o que acontece. No mundo da política é o vale tudo, incluindo os ataques pessoais, frequentemente usados.

As campanhas negativas têm muita expressão principalmente nos Estados Unidos da América (as campanhas duram meses) e caracterizam-se pelo uso de acusações, insinuações, comparações, cartazes e publicidade dirigida e criação ou aproveitamento de rumores.
No âmbito do estudo das campanhas negativas foi-nos dado a ver um episódio da série “Irmãos e Irmãs” que nos ajudará a perceber o quão cruel são as campanhas negativas. Existem dois candidatos e só um pode vencer. Os assessores de u dos candidatos descobrem que o outro candidato tem um filho deficiente que não esta com ele. Os assessores pensam em usar essa informação para prejudicar o adversário, mas o candidato não quer vencer, baixando o nível. Contudo, o rumor é lançado.

Existem duas formas de reagir ao rumor: com verdade e oportunidade ou com o desviar das atenções, manipulando e desacreditando o mensageiro. O resultado foi que Adamson convocou uma conferência de imprensa, admitiu o erro, pediu desculpa e demitiu-se da candidatura. Este exemplo reforça a ideia do poder do rumor assim como demonstra que, decididamente, os golpes baixos são a máxima para poder vencer. Mais uma vez a velha máxima do vale tudo. A campanha negativa, em certos casos é levada tão a sério que existem, já, empresas especializadas que se dedicam a investigar os “podres” dos adversários.

Os rumores não devem ser respondidos. Na campanha de Sócrates, surgiu um rumor. A estratégia passou por não valorizar. Mas, em horário nobre, em pleno debate, Sócrates respondeu com dois momentos decisivos. Negou e atacou o adversário Santana Lopes, acusando-o de ter sido ele a lançar o rumor. Estas pequenas técnicas, embora pareçam actos espontâneos, não são. São, antes, técnicas pensadas previamente. São soluções devidamente estruturadas. São, antes de tudo, golpes de mestre.

Na série “Os Homens do Presidente” a campanha negativa esta quase sempre presente. No episódio da série em que as personagens são diferentes das habituais, a série tem como principal tema a elaboração de uma campanha política. São dois os concorrentes á presidência e antes de um importante debate, existam manobras de bastidores. No episódio “We killed yamomoto”, a expressão da campanha negativa para prejudicar a Casa Branca é maior. Neste episódio mandam uma cassete para a Casa Branca e não se sabe quem foi o mandatário, mas era contra Bartlet. Sam devolve-lhes a cassete e é enganado. Isso é usado contra ele. Todas as televisões passam isso e CJ recebe ameaças, tendo mais tarde de ser submetida á protecção de um guarda-costas.
No episódio nº 6 da sétima temporada, a campanha para a escolha do sucessor de Bartlet esta, cada vez, mais negativa para atingir o presidente e os ataques pessoais sucedem-se. A campanha negativa remete-os sempre para o campo pessoal, no contexto da campanha política.

O episódio “Desmoronamento” mostra um discurso interessante da oposição. O adversário usa a doença do presidente para poder atacar e ganhar mais votos. Contudo, é ainda mais inteligente e mostra-se solidário com Bartlet, elogiando-o e afirmando que o trabalho que o presidente tem feito tem sido de louvar.

Bartlet esta atento ao discurso e com um sorriso apercebe-se, desde logo, que aquela atitude do adversário valeu mais alguns votos.

O filme “Boris” é muito rico nesta matéria, tanto em situações como nos termos que são utilizados ao longo da acção. Yeltsin não agrada aos seus eleitores e os três americanos que são consultores políticos insistem na campanha negativa contra Tyugnov (pelotões da verdade). A filha de Yeltsin diz que o pai não alinha nessas tácticas e quer uma campanha positiva. A duas semanas das eleições, eles continuam a insistir na campanha negativa porque os resultados eram desastrosos. “Neste ramo nem tudo é verdade”. Apenas quando o presidente sofreu um ataque cardíaco e a filha ficou encarregue de tudo, é que decidiu dizer sim á campanha negativa. Só assim poderiam ganhar.





1.1 As Crises, a Mentira e a Manipulação

Como vimos ate aqui, a política é uma área muito complexa que envolve demasiadas técnicas, que não a verdade e a transparência.

Se a política, nas suas mais variadas formas, já é complicada, nos Estados Unidos da América, a situação de crise atinge o seu auge. É na Casa Branca que tudo acontece e todos os dias são uma verdadeira aventura: There’s no such thing as a typical day, there’s a shedule and a structure to be sure. And to a certain extent it starts as a 9-5 job, but it’s blown to hell by 09:30”, Segundo Josh Lyman.

Nos vários episódios que vimos, a Casa Branca é confrontada com verdadeiras crises às quais se tem de dar respostas. Essas respostas nem sempre passam pela sinceridade. Antes pelo contrário. A mentira e a manipulação aparecem como as únicas e mais óbvias alternativas. Nos “Homens do Presidente”, a frase de Will Balley: “Por uma vez disse a verdade” ilustra bem este facto.

Todos os elementos da Casa Branca antes de serem assessores são seres humanos com as suas fraquezas e limites. Contudo, essas fraquezas devem de ser escondidas e abafadas para não dar azo a especulações que possam vir a prejudicar o presidente. Leo tem problemas com o álcool e no episódio “Ele fará de vez em quando” é avisado da doença de Bartlet que ate aí era segredo. Nesse episódio, temos também a oportunidade de ver o poder da Internet que acelera a comunicação porque termina com o conceito de espaço finito (já explicado anteriormente). A Internet multiplica por milhões o número de comunicações possíveis e, consequentemente, há mais necessidade de mediar essas informações.

O 21º episódio da 1ª e 2ª temporada são muito importantes para este tópico. Em ambos os episódios, a doença do presidente é o principal tema.

No primeiro episódio, vemos aquilo que é a chamada Sala de Crise da Casa Branca. Como o próprio nome indica, é lá que se falam e se tomam as decisões mais cruciais. A primeira-dama é chamada e questionada sobre a doença do presidente e preparada para responder às perguntas quando o presidente assumir perante o país que esta doente. O maior problema levanta-se porque além de ela ser médica e usar termos demasiado científicos, confessa que era ela própria que medicava Bartlet, infringindo a lei em três estados. A solução passaria por omitir esse factor, mais uma vez a ideia de falsidade e manipulação.

No segundo, encontramo-nos perante o ponto essencial. Durante a campanha, não foi revelada a doença do presidente. E agora? É neste momento que a preparação de todos os detalhes para o presidente assumir é muito importante. A manipulação da opinião pública é emergente. A mentira, neste episódio, aparece como instrumento de marketing político. Porque? Durante a campanha vale tudo e a revelação da doença poderia prejudicar, pois ninguém quer um presidente debilitado. Acha-se logo que as capacidades de liderança não são as mesmas. Bartlet arriscaria a vitória. Portanto, mais uma vez, a mentira na política é, de facto, conveniente aos políticos.

Outro dos problemas neste episódio relaciona-se com o facto de um dos assessores andar com uma mulher que para pagar os estudos, prostitui-se. Ela termina a licenciatura e faz questão da presença dele na cerimónia de formatura, embora saiba que tal não é possível mediante o trabalho que ele desempenha na Casa Branca. Ele diz que não vai, acabando por ir e ser fotografado. Na Casa Branca, a situação não é bem recebida.

No episódio “Sentido” existe mais uma crise. Um camião de resíduos que transportava substâncias perigosas tem um acidente e incendeia-se num túnel e estão a tentar eleger um novo vice-presidente.

Em “Universitários”, vemos mais uma vez a utilização da Sala de Crise da Casa Branca. Uma advogada é chamada á Casa Branca porque o presidente está disposto a ir a tribunal responder pela morte de Sheeref, alegando que este era um perigo para a sociedade. Sheeref terá morto muita gente e para bem de todos foi assassinado. As provas de um suposto acidente de avião foram destruídas pela própria Casa Branca. A advogada alega que foi um crime e muito dificilmente será provada a “boa acção” da Casa Branca. A crise instala-se e as soluções, mais uma vez, direccionam-se para a utilização da mentira e manipulação da opinião pública. Enquanto isso Toby e Josh trabalham no caso das propinas e acham que tornar o ensino mais barato devia ser tema de discussão na campanha. CJ, no meio da juventude, tenta “arrancar” votos dos mais jovens que equivalem a cerca de 30% da população votante. Neste episódio é, finalmente, admitida a nova secretária. Depois de esta, num comunicado, ter desejado a morte do presidente, o próprio acha-a uma mulher de armas e admite-a. A situação é engraçada, mas não deixa de ser irónica.

No meio de todas estas peripécias, o que é mesmo fundamental é responder ás crises. Em todos os episódios essas crises são solucionadas ou com a mentira ou com a manipulação. Responder com a Comunicação de Crise só prejudicaria quem se quer manter no poder. As manobras de bastidores são mais eficazes e em casos de concorrência, ambos sabem que vão ser vítimas dessas mesmas manobras. Há um episódio que termina com dois concorrentes prontos para um discurso fundamental, e antes de serem chamados têm a possibilidade de falar pessoalmente sem a companhia dos assessores de cada um. Ambos combinam não atacar nem usar golpes baixos.

A manipulação define duas ideias bem diferentes. Por um lado, a manipulação inocente, como sinonimo de verdade, ou seja, escolhe-se uma parte da verdade e apresenta-la para servir determinado interesse. Por outro lado, a ideia de falsidade. Esta consiste em alterar e fabricar a realidade em prol de determinado interesse. É esta a ideia que nos interessa e que está, directamente, relacionada com os temas que têm vindo a ser aqui desenvolvidos: marketing político, campanhas eleitorais, manipulação mentirosa e criação de factos.

Com a manipulação dos factos pretende-se, essencialmente, influenciar a nosso favor, a opinião pública, de modo a parecermos os melhores. E para que essa tal manipulação exista, é necessário o vale tudo (para ganhar as eleições ou manter o poder, nos Homens do Presidente), é necessária a mentira.

A manipulação da opinião pública é uma ciência exacta. Pode-se fazer ganhar qualquer candidato desde que haja dinheiro ou se apliquem bons golpes baixos ao adversário. Á ideia de crise (das que já surgiram e das que vão, ainda, surgir) está associada a ideia de Spin Doctor que não esta de acordo com as regras da Comunicação de Crise, mas sim á ideia de adulteração da realidade. O conceito de Spin Doctor não é fácil de caracterizar, ate porque não tem função determinada. Ninguém sabe quem é. No filme “Manobras na Casa Branca”, os dois protagonistas comparam-se a um canalizador que se limita a pôr as coisas no sítio. Ao Spin Doctor é perguntado três vezes quem ele é e ele não responde. Quando no fim. O produtor quer os louros, é mandado matar para não se descobrir quem fez spinning.

No fundo, Spin é uma espécie de fachada de assessor de imprensa, capaz de verdadeiros milagres e que através da informação que ele próprio manipula e constrói influencia a opinião pública, com vista a ganhar de imediato ou mais tarde eleições.

O Spin Doctor não precisa ser jornalista, mas tem de ser alguém que conheça bem os meandros da comunicação e da politica porque é ele que define as ideias fundamentais que a opinião pública tem de receber, como e quando (no filme “Manobras na Casa Branca, o Spin passa a vida a dar indicações á assessora. Exemplo: quando lhe manda de qualquer maneira pôr a musica na biblioteca).

A ideia essencial do filme “Manobras na Casa Branca” é a constante manipulação da comunicação social e também a tentativa de tentar evidenciar como às vezes é fácil fazer com que a comunicação social seja manipulada sem ter noção disso.

Relativamente á Casa Branca, podemos considerar CJ e os outros assessores Spin Doctors? NÃO. Embora também eles se sirvam da mentira e façam de tudo para manter o presidente no poder, existem grandes diferenças. Um Spin pertence ao círculo íntimo do protagonista, cria e selecciona as mensagens que o protagonista vai difundir, mente e utiliza fugas selectivas de informação. Tudo isto acontece na Casa Branca. Contudo, um Spin Doctor raramente ou nunca aparece e o lugar que ocupa na hierarquia ou o nome que a sua função tem não correspondem á sua função de manipulador da realidade. Na Casa Branca todos têm a sua função bem definida e os cargos correspondem às funções. No caso de CJ todos sabem que é a porta-voz da Casa Branca.

Um Spin Doctor quase que manda no presidente. Na Casa Branca, os assessores, apenas, aconselham. A última palavra é do presidente. A personalidade de Bartlet é forte, mas às vezes deixa-se influenciar pela emoção, mais que pela razão, não permitindo determinados truques. O Spin quando representa um candidato está encarregue de tudo. Na Casa Branca, cada qual tem a sua função.

A actividade deve ser vista de uma forma ampla e não estrita. É-se Spin quando se manipula a realidade, quando se criam manobras de diversão, quando se sabota os adversários. Em resumo, tudo o que aprendemos este semestre e que confirmamos com os episódios da série pseudo-real “Os Homens do Presidente”.





Conclusões

Ao longo dos “Homens do Presidente” vimos todas estas situações acontecerem. As Crises, as Mentiras e a Manipulação foram uma constante. Para manter o poder, o recurso a certos truques é essencial e decisivo. Perante a concorrência, a verdade não leva a lado nenhum. Bartlet com a ajuda dos super assessores são todos os dias confrontados com verdadeiras crises que devem ser respondidas de forma eficaz. Essa eficiência nem sempre é a mais correcta e sensata. Contudo, é aquela que proporciona melhores resultados.


Os políticos só recorrem á Comunicação de Crise quando não têm a oportunidade de mentir. Na Politica não se olha a meios para atingir os fins. Nada é inocente, nada é por acaso, há sempre uma intenção por trás.
Na política não há tempo a perder e o tempo que sobra deve ser aproveitado em prol dos interesses de cada um. Interesses esses, que a maior potência do mundo usa e que não são fruto da Comunicação de Crise, porque a Comunicação de Crise não interessa aos políticos!
















1 comentário:

João Paulo Meneses disse...

Cláudia,
Apreciei o facto de responder à questão central, mas não gostei que tivesse ido buscar matéria que não tem nada a ver. (palha...)
O seu trabalho não tem contributos externos nem investigação.
Tem boa organização interna.